quinta-feira, 9 de outubro de 2008

As Quatro Estações em versões portuguesas








A Primavera



chegou a verde primavera num voo de andorinha
vêem-se ninhos de lama tecidos de cio e de alegria
move-se a esperança vestida de folhagem florida
há ovos nos ninhos de ternura a anunciar a vida.
só as árvores ressurgidas entoam um hino à eternidade
no canto harmonioso das aves em viagem.








O Verão



refrescam o calor os frutos estivais – suculentos sabores
tão doces ao olhar que animam o amor nas cores
da vida vesperais e sulcam a vontade solidária do mar
que banha a natureza que há em nós e no luar.
só as árvores maternais oferecem a inteira plenitude
em incêndios de odores e cores de beatitude.







O Outono




o cheiro a vinho novo e a castanhas traz um outro tempo
algum frio enrolado no vento do calor extinto do estio
outros cheiros ainda adocicados das espigas de milho
desfolhadas entre risos abertos e beijos roubados à mocidade.
só as árvores repousam no leito do tempo e do olhar
sulcado de folhas douradas pela luz da própria idade.







O Inverno




comove-me o inverno enregelado
tanto frio no corpo e na alma desolado
e a quase ausência do riso e da alegria
inscrevem-se na vida cada dia.
só as árvores nuas animam a paisagem
e o canto alegre das aves de passagem.


Tradução livre dos sonetos de Vivaldi
por José Almeida da SILVA, 2003.
Os quadros de François Boucher.

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