Descrição

Este texto versa mimeses transversais entre diferentes manifestações artísticas do século XVIII e atuais, discute a invenção baseada em emulações sobre um tema restrito: As Quatro Estações.
O engenho focado, analisado e discutido é o de um conjunto pictórico cuja arte, retórica e poética, teria sido capaz de representar simultaneamente um Programa Iconográfico das Quatro Estações como ciclo temporal e metáfora das fases da vida além de juntar aos elementos universais do mote a visão contemporânea sob o ponto de vista do autor.
Essa pintura é, a um só tempo, produto da mimese[2] de obras literárias e musicais e expressão de análise visual das metáforas naquelas obras. Procurou-se, na composição, a integração dos elementos formais da iconografia a elementos da linguagem plástica contemporânea, tendo-se como referenciais básicos daqueles a obra de Cesare Ripa[3] e destes o trabalho de Amílcar de Castro.
A questão que inquietou, desde aquela época, foi a capacidade interpretativa, o domínio da técnica e dos recursos disponíveis para recriar uma obra de arte já tão explorada, tão difundida e de ela apresentar tanta qualidade simplesmente pelo desempenho de absoluto brilhantismo sob a direção de um artista do jaez daquele Maestro.

[1] Os títulos dos capítulos deste trabalho se inspiram na antiga retórica, mas foram tomados em sentido lato. Descrição, aqui emulado apenas o sentido de descriptio, sem a amplitude de κ-φρασις, cujo sentido completo se expressa pelo termo exposição. Demonstração será empregado adiante no sentido de demonstratìo, sem necessária referência a καλον ou αισρον. Mimese será empregado como referência às fontes que emularei. Retórica, elocução e disposição serão termos empregados no sentido retórico próprio.
[2] Mimese em retórica: figura em que o orador, usando discurso direto, imita outrem, na voz, no estilo ou nos gestos; literatura: recriação, na obra literária, da realidade, a partir dos preceitos platônicos, segundo os quais o artista, ao dar forma à matéria, imita o mundo das Idéias [É em Aristóteles, na Poética (XXI-128), que se encontra a primeira teorização acerca desse procedimento da arte; no entanto, para este filósofo, a mimese seria a imitação da vida interior dos homens, suas paixões, seu caráter, seu comportamento (idem, II e III)]; literatura: a partir do Classicismo (s. XV), princípio que orientou os artistas quinhentistas e seiscentistas que acreditavam ter a arte greco-latina qualidades superiores, devendo por isso ser imitada. Houaiss.
[3] Ripa, 1593.
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