sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Transdisciplinaridade da natureza das coisas


Refletirá a ordem, a percepção e a retórica dos sons a natureza das coisas. A música espelhará, como estrutura orgânica de som, assim como a linguagem – de alguma forma, a essência de uma sociedade, uma era, um pensamento? Sou levado a crer que sim e é nessa hipótese que calço meu argumento. Mas não se pode ouvir a música setecentista com ouvidos modernos, supondo que o homem de alguns séculos a ouviu com o mesmo ouvido de hoje, nem do ponto de vista físico. Nem podemos ler versos de duzentos anos como se tivessem sido escritos hoje – pois, em sede de mutação, o sentido da palavra é a instância mais fluida.
Foi na elaboração do mais alto grau metafórico, empreendendo a mimese nessa trama de sinais, que foi estabelecida a compreensão dos processos semióticos das obras emuladas e que se pôde obter um produto mais próximo à realidade e de sua compreensão figurativa – tanto do ponto de vista visual direto quanto simbólico discreto.
Urdir esta complexa trama de conexões múltiplas implicará no enfrentamento com a diversidade discursiva pretensamente intimidativa, legitimada pelos saberes cristalizados. É modo de devorar o objeto a ponto de desfigurá-lo, realizar a carnavalização da retórica nesse ritual canibalístico e fazer do banquete dionisíaco fonte produtiva de texturas híbridas, polifônicas, babélicas , eis alguns dos propósitos da obra em análise.
O discurso transdisciplinar, a retórica iconográfica na linguagem contemporânea, tem por um lado amplificada sua eficácia, mas se torna mais neutra à medida que sua linguagem é mais complexa, metafórica, metonímica, universalista. Prosseguindo na linha desta aparitmese , o discurso deixa de ser dominante, para ser dialógico; deixa de ser didático para ser didascálico, deixa de ser literal para ser literário; o discurso desta retórica não é jornalístico, mas é cotidiano e atual; não é discurso persuasivo, mas não deixa de ser sugestivo . É discurso apofântico , lúdico, polêmico, aberto.
  • Aparitmese: na retórica, ato ou efeito de enumerar, especificação, designação de coisas uma por uma. HOUAISS.
  • Apofântico: enunciado verbal passível de ser considerado verdadeiro ou falso, em função de descrever corretamente ou não o mundo real Aristóteles considerou-o o único objeto a ser estudado pela lógica, em contraste com as manifestações lingüísticas afetivas, desejantes, interrogativas etc., que pertenceriam antes à retórica ou à poética. HOUAISS.

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